A manifestação – conforme o pároco – é de solidariedade, de busca da paz. “É um ato livre e gratuito, nas escadarias e calçada da Igreja e ninguém está obrigado a participar”, disse. O católico que se fizer presente no ato ecumênico, de lavagem das escadarias, segundo o pároco Marco Antonio, “não precisa deixar de ser católico. Ao contrário, o gesto simbólico só terá sentido se permanecermos o que somos”.
Em Cuiabá, a Festa de São Benedito nasceu entre os excluídos, não alfabetizados, negros e pobres que não tinham nenhuma representatividade social. Com o passar do tempo, o evento passou a contar com a participação de outras classes sociais. A devoção ao santo venceu as barreiras da exclusão, minimizando assim as diferenças sociais, unindo diversas classes e etnias, em um só tempo e espaço para reverenciar São Benedito.
O pároco recorda que no Setor V, da Arquidiocese de Cuiabá, existe a missa da Consciência Negra todos os anos. Ano passado, por exemplo, a missa foi celebrada do lado de fora da Igreja do Rosário, por não caber em seu interior a quantidade de pessoas previstas. O Setor V é composto por quatro paróquias, uma delas é a do Rosário e São Benedito. Participam dessa missa católicos, evangélicos e também pessoas de outras denominações religiosas, inclusive de religiões tradicionais africanas. “Há respeito por todas as religiões. Nessa missa se re&uacu te;nem para celebrar a memória de uma parte significativa de pessoas que foram arrancadas de sua pátria e feitas escravas e que construíram boa parte da riqueza de nosso País, mas não ficaram com nada dessa riqueza”, explicou.
Conforme o Pe. Marco Antonio, esses e outros momentos celebrativos estão inseridos no contexto de uma ação evangelizadora da Igreja no Brasil de ecumenismo. “O evento pela paz do dia 24, assim como o chá com bolo, fazem parte de uma série de iniciativas para promover a visibilidade da Festa de São Benedito como evento cultural. Uma festa que já é patrimônio imaterial de Cuiabá e encontra-se em processo para ser também patrimônio em nível estadual”.
Ele ressalta que “quem não estiver confortável em participar, sinta-se livre para não estar presente. Nesse sentido, nem o Rei Gabriel, nem a Rainha Enir, irão obrigar que os Festeiros estejam presentes”. Contudo, o pároco completa dizendo “insisto, no entanto, em que tenhamos em mente a necessária reflexão que esse evento nos apresenta como oportunidade para pensar: em que Deus eu creio: num Deus que separa e causa a dor, a guerra e a morte ou num Deus que promove e salva a vida, fomentando a solidariedade entre os povos e vida em plenitude? Eu, particularmente, fiz a opção por Jesus, que sem pre defendeu, promoveu e deu a vida, e vida plena!”
Por fim Pe. Marco Antonio lembra que “São Benedito foi um homem pobre e sem letras, mas doutor em solidariedade, em fraternidade e em serviço”.
