A Província dos Jesuítas do Brasil – BRA - esteve reunida em sua
segunda assembleia, em Indaiatuba-SP, com mais de 340 jesuítas de diversas
partes do País, na Casa de Retiros Vila Kostka, no período de 25 a 27 de julho,
para celebrar os três anos de caminhada da nova Província do Brasil. O encontro
reuniu dois terços dos jesuítas da Província BRA.
O pároco da Paróquia do Rosário e São Benedito, padre Marco Antonio, e
os padres Jomer e Aloir, participaram da 2ª assembleia que, além das
conferências, dos momentos de convivência entre os jesuítas e das partilhas em
grupos, elaborou, ao final do encontro, um posicionamento sobre o momento
econômico, social e político que o País atravessa. Confira a carta final do
encontro:
“Nós, mais de trezentos jesuítas do Brasil, reunidos em Assembleia
Nacional de 25 a 27 de julho de 2017, para celebrar os três anos de caminhada
da nova Província do Brasil, não podemos deixar de manifestar nossa preocupação
e até nossa indignação diante da maneira como as classes dominantes conduzem as
crises econômica, social e política que assolam o país e afetam a população
brasileira, sobretudo os mais empobrecidos. A corrupção e a promiscuidade entre
interesses públicos e privados nas esferas dos poderes instituídos escandalizam
a maioria do povo brasileiro e tiram legitimidade aos poderes executivo e
legislativo. Nem sempre o judiciário escapa de parcialidade.
A desigualdade socioeconômica, nestes últimos anos, agravou-se
significativamente. Além dos 14 milhões de desempregados, pelo menos 10 milhões
de trabalhadores ficam subempregados ou desistem de procurar trabalho. Muita
gente, que tinha saído da miséria e da pobreza, está voltando à assistência
social. O recrudescimento da desigualdade produz mais violência de todos os
tipos na sociedade, contra a pessoa e a vida, contra as famílias, tráfico de
drogas e outros negócios ilícitos, excessos no uso da força policial,
corrupção, sonegação fiscal, malversação dos bens públicos, abuso do poder
econômico e político, poder manipulador dos meios de comunicação social e
crimes ambientais.
A idolatria do dinheiro, de acordo com o Papa Francisco, dá primazia ao
mercado, tanto em detrimento da pessoa humana como em detrimento do trabalho
(cf. Evangelii Gaudium, 53-57). Não é justo submeter o Estado ao mercado, em
nome da retomada do desenvolvimento. Quando é o mercado que governa, o Estado torna-se
fraco e acaba submetido a uma perversa lógica do capital financeiro. Como nos
adverte o Papa Francisco, “o dinheiro é para servir e não para governar”
(Evangelii Gaudium 58).
No esforço de superação do grave momento atual são necessárias reformas,
que se legitimam quando obedecem à lógica do diálogo com toda a sociedade,
tendo em vista o bem comum. Por essa razão, as Reformas Trabalhista e da
Previdência, como foram encaminhadas ao Congresso, carecem de legitimidade.
Outras propostas em tramitação no Congresso, não poucas vezes por medidas
provisórias, como a “liberação” do desmatamento, a “legalização” da grilagem de
terras urbanas e rurais, a mercantilização de terras para corporações
estrangeiras e a “outorga” das terras indígenas e quilombolas ao agronegócio,
são afrontas à Constituição Federal que garante direitos e cidadania para
todos. Os ajustes desse (des)governo para atender ao mercado, assim como o
domínio do agronegócio, explicitado na CPI da Funai e do Incra, abrem espaço
para mais violência e mortes no campo e nas cidades, como noticiado nestes
últimos tempos. Os movimentos sociais e populares, como também instituições que
lutam em prol das populações excluídas, estão sendo criminalizados e falsamente
denunciados.
Essa situação interpela hoje a missão dos jesuítas no Brasil.
Comprometemo-nos a manter nossa presença junto aos mais empobrecidos e
excluídos, como também, pela análise das causas da persistente situação de
desigualdade e de exploração desordenada da natureza, contribuir para a superação
do abismo da desigualdade socioambiental, em solidariedade à esperança do povo.
Sentimo-nos chamados a manter-nos fiéis ao Evangelho, que nos impulsiona a
reconhecer e a denunciar as injustiças estruturais e históricas, sobretudo a
grande dívida social em relação aos mais fracos e vulneráveis. Na esperança
teimosa em dias melhores queremos colaborar na construção de um Brasil justo”.