Com
o Irmão Medino fomos traduzindo um texto do inglês para o português. Aos poucos
fui compreendendo que o Padre Paul Martin enviou Medino para ficar comigo
nestes dias de introdução ao mundo indígena na Guiana e não queria que eu
atravessasse a fronteira antes dele ter organizado as mudanças que está fazendo
com os novos jesuítas indianos que estão chegando também. Enquanto isso
participamos da reunião da Pastoral Indigenista da diocese de Roraima. Encucou
que não havia interesse pelos indígenas que estão vindo como refugiados da Venezuela,
algo que também percebi em Manaus. Com Medino fomos ao abrigo Pintolândia
conhecer e Nicholas da Fraternidade nos acolheu bem mostrando com detalhes o
que estavam fazendo em favor dos Warau e Panare, aqueles cerca de 40 e estes
cerca de 450. Falamos com o cacique Ronny Baez, 29 anos dos Warau e Ramon
Paredes um pouco mais velho dos Panare. Quando estes tiveram oportunidade de
estar sozinhos reclamaram que não estão bem vivendo nas 4 barracas, possuem
modo de educar as crianças diferente dos Warau. Visitamos também o abrigo onde
estão os “criollos”, outro ginásio de esportes e ali o ambiente parecia mais
precário. Sem armadores de rede, estes precisam se ajeitar no chão para dormir.
Contudo, sentados junto de um grupo de 22 homens que fica na barraca da Defesa
Civil, fomos compreendendo que o colapso da Venezuela tem a ver com a vontade
do governo de excluir parte de sua população dos recursos advindos do petróleo.
Assim sobra mais para o bolso de uma minoria. Um dos motivos básicos para a
migração para o Brasil encontrados nos três grupos é a questão da saúde, quando
alguém fica doente, eles não tem saúde pública para atender na Venezuela.
Estava trabalhando neste texto na
madrugada do dia 9 de novembro e ouvi gritos próprios dos índios que fazem
sinal que encontraram caça e estão em sua perseguição. Lembrei-me dos tempos em
que eu estava na mata com os Rikbaktsa. Parecia que erem indígenas invadindo a
cidade, e fui ver, pois poderia ser um grupo de índios que passava, vindo de
algum bar, fazendo algazarra. Mas era o caminhão de lixo que vinha passando
pela nossa rua, recolhendo o lixo que produzimos. Assim vi a criatividade
própria de cada lugar, pois o grito de guerra próprio dos trabalhadores que
acompanham o caminhão de lixo e avisavam o motorista que podia seguir adiante é
indígena. Assim como o cobrador de ônibus tem formas próprias de avisar o
motorista que pode seguir adiante, assim vamos encontrando formas de estar
inseridos neste mundo marcado pelo desemprego e falta de vida digna para grande
parte da população. E as elites estão se organizando novamente para permanecer
no governo...
O encontro da pastoral indigenista nos preparou para a Assembléia da Diocese de Roraima. A XXIII Assembléia da Diocese de Roraima pensou sua Missão como uma grande casa comunitária, a casa de todos que encontramos na aldeia Pium, aqui chamada também de “malocão”.
A que ponto chegamos: a riqueza humana e
ecológica em crise nos propõe uma nova forma de estarmos neste planeta terra,
conservando a Amazônia. Em Puerto Maldonado o Papa Francisco vai nos trazer a
oportunidade de estar neste discernimento do que fazer para o bem viver com os rios, florestas,
animais e seres humanos. Apesar de tão diferentes temos que viver juntos e ir a
Roma para o Sínodo ter repercussão mundial. Agora estamos em Pacaraima (RR -
Brasil) ao lado de Santa Elena (Venezuela) para compreender a migração nesta
fronteira que é totalmente irregular.