A Quaresma é uma época propícia
para a conversão, para se renovar por meio dos sacramentos, para reconhecer-se
pecador, buscar o perdão de Deus e começar de novo o caminho para a Páscoa, “a
vitória de Cristo sobre a morte”.
É o que assinala o
Papa Francisco em sua mensagem por ocasião da Quaresma de 2017, que, com o
título “A Palavra é um dom. O outro é um dom”, foi divulgada nesta terça-feira.
Francisco explica
que, mediante o jejum, a oração e a esmola, a Quaresma é o tempo mais adequado
“para intensificarmos a vida espiritual”.
Na mensagem, o
Pontífice afirma que “a Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um
destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte”.
“E este tempo não
cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar
para Deus ‘de todo o coração’, não se contentando com uma vida medíocre, mas
crescendo na amizade do Senhor”, afirma o Santo Padre.
A mensagem do Papa
se articula em torno da parábola do homem rico e o pobre Lázaro. A partir dessa
parábola, o Pontífice estabelece três pontos temáticos: “O outro é um dom”; “O
pecado cega-nos”; e “A Palavra é um dom”.
1. O outro é um dom
O Papa Francisco
indica que, nesta parábola, “Lázaro ensina-nos que o outro é um dom. A justa
relação com as pessoas consiste em reconhecer, com gratidão, o seu valor. O
próprio pobre à porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a
converter-se e mudar de vida. O primeiro convite que nos faz esta parábola é o
de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja
ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido”.
Neste sentido,
convida a “abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de
Cristo. Cada um de nós encontra-o no próprio caminho. Cada vida que se cruza
conosco é um dom e merece aceitação, respeito, amor”.
2. O pecado cega-nos
Em sua reflexão a
partir desta parábola, o Papa chama a atenção sobre como “a riqueza deste homem
é excessiva, inclusive porque exibida habitualmente”.
Nessa atitude do
rico se entrevê, “dramaticamente, a corrupção do pecado, que se realiza em três
momentos sucessivos: o amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba”.
O Santo Padre
insiste mais uma vez sobre os perigos do material: “o dinheiro pode chegar a
dominar-nos até ao ponto de se tornar um ídolo tirânico”.
“Em vez de
instrumento ao nosso dispor para fazer o bem e exercer a solidariedade com os
outros, o dinheiro pode-nos subjugar, a nós e ao mundo inteiro, numa lógica
egoísta que não deixa espaço ao amor e dificulta a paz”, adverte.
Quanto à vaidade,
em sua mensagem afirma que “a ganância do rico fá-lo vaidoso”. “A sua vida está
prisioneira da exterioridade, da dimensão mais superficial e efêmera da
existência”.
Em seguida, está a
soberba, “o degrau mais baixo desta deterioração moral”. “O homem veste-se como
se fosse um rei, simula a posição dum deus, esquecendo-se que é um simples
mortal. Para o homem corrompido pelo amor das riquezas, nada mais existe além
do próprio eu e, por isso, as pessoas que o rodeiam não caiem sob a alçada do
seu olhar”.
3. A Palavra é um dom
O verdadeiro
problema do rico, a raiz de seus males, “é não dar ouvidos à Palavra de Deus”,
indica o Santo Padre. “Isto levou-o a deixar de amar a Deus e,
consequentemente, a desprezar o próximo. A Palavra de Deus é uma força viva,
capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa
para Deus”.
O Pontífice
alertou: “Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência
fechar o coração ao dom do irmão”.
Abrir o coração
A Sala de imprensa
da Santa Sé apresentou a mensagem do Papa em uma coletiva de imprensa da qual
participaram o Cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério para o Serviço do
Desenvolvimento Humano Integral, e Chiara Amirante, fundadora da Comunidade
Novos Horizontes, uma organização internacional que tem o objetivo de levar
alegria a quem perdeu a esperança mediante ações solidárias com pessoas que se
encontram em grave dificuldade.
O Cardeal Turkson
sublinhou que “a chave da mensagem é como a pessoa se relaciona com o outro”.
Explicou que Jesus condena o rico não por ser rico, “mas por ter o coração
fechado ao outro”.
Recordou que a
atitude de um cristão não deve ser fechar-se em si mesmo, mas “ser uma pessoa
que se abre ao outro”.
Em sua intervenção,
Chiara Amirante destacou a necessidade, apontada pelo Papa Francisco, de “abrir
o coração” aos demais. Insistiu também no dom de Deus presente em sua Palavra,
“um dom que leva a mudar a vida, a se converter”.
Esse dom se
concretiza no “privilégio de encontro o pobre”. Amirante explicou que “há
muitas novas formas de pobreza” e, em concreto, assinalou a situação em que
muitos jovens e menores vivem, “vítimas do abuso das drogas, do abuso do
álcool, do abuso da sexualidade…, jovens que são vítimas de violência, jovens
que sofrem depressão”.
Diante disso, fez
um chamado a desenvolver “a civilização do amor, baseada na força da caridade,
da solidariedade, da fraternidade”.
Em sua análise da
mensagem pontifícia, destacou três conceitos que, segundo assegurou, “me parece
que afetam o homem de hoje: o apego ao dinheiro, a vaidade e a soberba”.
“O veneno do
consumismo, que entrou no âmbito das relações entre pessoas, nos leva a
problemas como o hedonismo, o relativismo ou o narcisismo, que nos impedem de
nos relacionarmos com os demais”, ressaltou.
Por ACI Digital