Quando o Papa Francisco está
pedindo a todos que tenhamos cuidado com a nossa casa comum, Cuiabá
faz a sua parte e traz para a nossa reflexão um pingo d´água, algo necessário
para a nossa consciência seca. Mato Grosso continua desmatando a floresta,
poluindo o rio Cuiabá e deixando o Pantanal um depósito de lixo.
Este ato ecumênico na
Lavagem das Escadarias da Igreja de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário
neste sábado (23/06/2018), tem algo da profecia de São João Batista. Seu fogo
que faz queimar as injustiças e a corrupção equilibra-se nas águas do Rio Jordão.
O rito que une os cristãos católicos aos cultos de matriz africana mostra que
temos que dar as mãos se queremos que o nosso planeta
sobreviva à ganância humana. A idolatria do dinheiro é o grande problema do
nosso tempo, por isso Jesus Cristo diz que não podemos servir a Deus e ao
dinheiro, pois amará a um e odiará o outro. Uma vida simples, desprendida deste
mundo é a possibilidade de alcançarmos justiça na terra e nossos rios e águas
permanecerem bens de todos, sem privatização.
Por isso a lavagem das escadarias é para que possamos subir mais
facilmente aos céus de onde vem a água pura, destilada como chuva de bênçãos. O
ato religioso tem um sentido metafórico de recordar destes espaços como local
onde os índios, negros, descendentes de africanos e remanescentes escravos
[junto com brancos, por que não? Trabalharam e cultivaram a fé tradicionalmente
devotada ao Santo Negro, nosso padroeiro.
Os
preconceitos de muitos devem ser esclarecidos com a bandeira da Paz. Não
estamos combatendo nada, mas fazendo que a justiça e a paz se abracem nesta
baixada cuiabana, lavando tudo que foi de maldade vivida nestas terras dos Boe
(Bororos) que foram invadidas. Quando os bandeirantes encontraram ouro no
Coxipó do Ouro, em 1719, e nas Minas do Sutil, onde hoje estão construídas
estas escadas e a igreja, os indígenas que lá e aqui viviam passaram a serem
massacrados. Assim é bom lembrar que antes dos negros escravizados serem
trazidos pelos bandeirantes para explorar o ouro na baixada cuiabana e no vale
do Guaporé, os corpos dos índios é que foram escravizados e suas terras
tomadas. Vale sim uma lavagem destas escadas para construirmos um mundo mais
justo e fraterno onde todos nos sintamos irmãos. Deus salve as águas e São
Benedito que tornou isso possível!
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Por
Padre Aloir Pacini, sJ